Festa de agosto*, que coisa boa. Como essa
cidade fica cheia. Vem gente de todo lado, São Paulo, Minas Gerais, Santa
Catarina, sem falar dos romeiros paranaenses. É claro que o ponto de maior
importância da festa ainda é a religiosidade. As missas, sob os pés do Bom
Jesus, mexem com a fé de todos os devotos que por aqui passam. Não à toa, a
festa do Senhor Bom Jesus da cana verde é uma das mais tradicionais do estado.
Mas, não dá para falar em festa sem o show
particular das barracas de camelôs. Tem de tudo. Roupas, brinquedos,
eletroeletrônicos, sem falar nos comes e bebes. Alguns camelôs são mais calmos,
preferem vender seus produtos de forma mais silenciosa. Porém, existem aqueles que fazem sua própria
publicidade. Gritam aos quatro ventos sobre as maravilhas de suas mercadorias.
São um espetáculo a parte.
O parque é outra atração interessante. E
se engana muito quem acha que apenas a criançada é que se diverte. O que tem de
marmanjo perdendo a compostura e dando gargalhadas espalhafatosas de alegria ao
quase ser jogado para fora do carrinho de batidas!
A cidade se transforma. Não há coisa
igual. Por isso, se você, caro leitor, ainda não conhece nossa afamada festa de
agosto, sinta-se convidado. E, se você já conhece, sabe do que estou falando.
Acontece de tudo numa festa dessas. Certa
vez, vi uma caso bastante interessante. Um moleque passou correndo próximo a
uma barraca de cocadas e, acabou por surrupiar um doce que estava em amostra. O dono da
abarraca percebeu, e saiu correndo atrás do moleque. Quando o menino chegou na
porta do Santuário, o homem lhe alcançou.
- Moleque, se tava com fome, porque não
pediu uma cocada? Eu dava!
Mas, o menino não respondeu.
- Vamo moleque, fala...
- Ele não sabe falar, é mudo – disse uma
voz.
O camelô olhou para o lado e viu uma
mulher bem apresentável, com vestido preto e óculos escuros.
- A senhora conhece o moleque? – perguntou
o homem.- Vi ele ali em
cima. Conversei com a mãe dele – respondeu a mulher, e
continuou – pode deixar, eu pago a cocada.
A mulher pagou o doce, e o menino saiu
correndo, sumindo por entre as pessoas que circulavam pela festa.
Por mais simples e comum que essa história
possa parecer, ela carrega uma questão. Porque aquela mulher deixou todas as
atrações que mencionei no inicio do texto para ajudar um menino? Só por que ele
era mudo? Quem sabe. O fato é que prefiro acreditar no efeito mágico da festa.
Na religiosidade que emana por entre as barracas. Prefiro ter esperança. Ao
menos isso temos que ter. A mesma esperança que faz o camelô vir todos os anos
para a festa, que fez a mulher bem vestida ter compaixão do menino pobre, e que
faz daquele moleque um exemplo de como até a festa de agosto, com todo seu esplendor,
tem um lado menos agradável, como tudo na vida.
Infelizmente, as coisas são assim. Se
existe algo bom, também haverá um lado ruim. Não podemos nos esquecer desse
lado mais drástico da vida, mas sem nunca deixar de aproveitar o lado alegre e
descontraído.
E
aí, de que lado você está?!
* Como é conhecida a Festa do Senhor Bom da Cana Verde, que
acontece todos os anos no inicio do mês de agosto, em Siqueira Campos,
Paraná
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