Minha Terra, de Eder Ferreira
Numa certa praça, de uma
certa cidade, muito bela e apreciativa por sinal, dois idosos mantinham um
diálogo sobre seus lugares de origem:
- Sabe compadre, tenho
muito orgulho da Minha Terra!
- É, eu
também. Sinto uma saudade da Minha Terra!
Bem
perto, mexendo com umas figurinhas, dessas que vem em chicletes, estava um
garotinho, de mais ou menos uns 6 anos, ouvindo, meio
que sem querer, a conversa
dos dois senhores
e pensando consigo: “Porque será que eles gostam tanto de terra?”.
O garoto
correu, então, para junto de sua mãe, que estava sentada em um outro banco da
praça e, ao chegar, lhe falou:
- Mãe,
aqueles dois homens falaram que gostam de terra. Porque?
- Ora
filho, que coisa feia. Não se deve ficar ouvindo a conversa de adultos –
repreendeu-lhe sua mãe.
O menino foi embora, mas aquilo ficou martelando
na sua cabecinha sem parar. No outro dia, logo cedo, ele continuava pensando
naquela conversa sobre terra. Até que, ao ver um frasco de vidro vazio, teve
uma idéia. Pegou o frasco, correu para o quintal, e colocou um punhado de terra
dentro. Depois, foi para dentro de sua casa e, ao encontrar sua mãe, mostrou o
frasco a ela e lhe disse:
- Olha
mãe, tenho muito orgulho da minha terra!
- Filho, eu não tenho tempo pra isso. Além disso, vai brincar com
terra lá fora, senão você vai sujar toda a casa, que eu acabei de varrer! –
disse ela, com um tom de irritação.
O garoto saiu para o quintal muito triste, pois ainda
não havia conseguido entender porque alguém teria orgulho de um punhado de
terra. Ele esperava que sua mãe lhe explicasse isso, mas ela nem quis saber de
conversa. E lá foi ele, para a beira da calçada, na frente de sua casa, com o
frasco de terra na mão. Sentou-se no meio fio, e ali ficou, cabisbaixo. Um
senhor, que morava por perto, ao passar pela calçada, percebeu que aquele
garotinho estava triste e logo puxou conversa com ele:
- Porque está triste, menino?
- É que minha mãe não gosta da minha terra – respondeu o
garoto.
- Mas como, ela tem que gostar, afinal,
sua Terra é o bem
mais precioso que
você pode ter! – disse o senhor.
- É mesmo? – e então, o menino ergueu seu frasco cheio
de terra – Mas eu acho
que ela não gosta, e até
disse que eu podia sujar a casa toda com a minha terra.
O homem, que conversava com o garoto, olhou para o
frasco e finalmente entendeu o que o menino estava dizendo.
- Mas então é sobre essa terra que você está falando? –
perguntou ao garoto, e continuou – mas porque você está tão preocupado com
isso?
- É que ontem eu escutei dois homens falando que tinham
muito orgulho de suas terras, mas até agora não entendi porque! – disse o garoto,
com cara de dúvida.
- Veja bem, menino, na verdade, o que esses homens estavam falando é
que eles tinham muito orgulho de seus locais de origens, de onde vieram e,
possivelmente, das cidade onde nasceram – explicou o senhor, e prosseguiu – eu
mesmo, tenho muito orgulho de ter nascido aqui, nessa cidade, e sempre me
refiro a ela como “Minha Terra Querida”.
- Então é isso? –indagou o garoto.
Ao termino da conversa, o menino correu para sua casa,
arrumou uma caneta, um pedaço de papel e um vidro de cola. E, a partir daquele
dia, a estante da sala de sua casa ganhara uma nova decoração. Um frasco, cheio
de terra, com um pedaço de papel colado, onde se lia a seguinte frase:
“SIQUEIRA
CAMPOS, MINHA TERRA QUERIDA”