por Eder Ferreira
Na última
sexta-feira, vivemos um momento impar na história de Siqueira Campos. Pela
primeira vez, a cultura foi vista não como algo ignóbil, sem valor, apenas como
devaneio temerário de alguns insanos afoitos por artes, mas sim, como algo de
relevante importância. Na reunião organizada pelo Departamento Municipal de
Cultura, vimos, apesar dos debates ocorridos terem destoado do objetivo
central, uma mobilização legitima e de grande destaque, em função de nossa luta
por uma política cultural real e presente na realidade siqueirense.
Não vou entrar
em pormenores sobre os acontecimentos de tal evento. Apenas quero deixar claro
que, por mais que possa ter parecido um momento de luxúrias particulares e
tentativas arbitrárias de demonstração de poder, os debates que acorreram na
noite referida mostram que a cultura está sim sendo levada a sério em nosso
município. E não só pelo grande número de pessoas que compareceram, mas
principalmente pelo espírito de luta e de inconformismo que pôde ser sentido
nos olhos de todos.
O que ficou no
final, para muitos dos presentes, ao verem o então Diretor Municipal de Cultura
Arnaldo Luska declarar a reunião cancelada, por causa dos argumentos de
Alessandro Silva e Pastor Esdras, foi a certeza de que a cultura de Siqueira
Campos sofreu mais um golpe, e por isso, retrocedeu mais alguns degraus em sua
tortuosa caminhada rumo ao progresso. Entendo isso, e não acredito que tal
indignação seja ilegítima, pois partiu da vontade de se construir um sistema
político-cultural eficiente em Siqueira Campos.
Porém, vejo que os debates acalorados e toda a raiva contida
que se seguiu após o cancelamento da reunião demonstrou um sentimento cultural
já visto em outras situações de nossa história, como a Semana de Arte Moderna
de 22, por exemplo, que, para os contemporâneos de tal evento, não passou de
uma piada de mal gosto, mas que, para nós, se tornou um marco intransponível
da luta por uma cultura legitimamente brasileira.
Analisando os
eventos que culminaram na interrupção dos trabalhos que elegeriam o novo Conselho Municipal de Cultura, vejo
que, apesar da frustração da maioria, podemos enxergar tudo isso
como mais um oportunidade de se repensar a cultura siqueirense e, mais do que
isso, reavaliar o quanto egos feridos e disputas pessoais podem continuar a
interferir no avanço de nossa cidade.
Para
finalizar, dois recados: aos que comemoraram o cancelamento da reunião, que se
sensibilizem por aqueles que só querem ver as coisas acontecerem de verdade e
não apenas no papel (ou na lei). E, para os que condenaram o cancelamento da
reunião, achando que a cultura regrediu mais um passo, lembrem-se que “para
quem está no fundo do poço, só resta subir ao topo”.