sexta-feira, 8 de junho de 2012

Entrevista com o poeta paranaense A. Zhoras (Leandro Muniz)

Entrevista realizada por Eder Ferreira, e originalmente publicada na Revista Drummond Número 1

Como você começou a escrever poesia?

- Aos doze anos de idade, comecei a esboçar algumas coisas, mas sequer tinha noção de que aquilo poderia se transformar em poesia algum dia, até porque, naquela idade, eu ainda não tinha entendido o que o termo “poesia” significava. Foi aos quatorze que compus meu primeiro poema propriamente dito; enquanto minha professora de português trabalhava o texto “Canção do Exílio”, senti que pulsava em mim uma voz dizendo “eu sou capaz de escrever algo assim”, e à semelhança do poema de Gonçalves Dias, escrevi para a minha terra natal. A partir daí, vieram muitos outros. Foram muitos anos até que eu encontrasse uma certa maturidade poética, mas nunca deixei de escrever. Um poeta se faz com leitura e treino constante, pois inspiração muita gente tem e não sabe o que fazer com ela.   

Além de poesia, você escreve outros gêneros?

- Além dos textos em verso, também escrevo prosa e textos dramáticos. Já publiquei uma novela “SRNGR consoantes assassinas”, contos, e tenho algumas peças de teatro prontas, porém inéditas devido à dificuldade de se levar ao público esse tipo de trabalho.

Que tipo de poesia você escreve?


- Sinceramente, não sei classificar minha poesia. Apesar de ter estudado tanto a teoria da literatura, não consigo   ter    olhar  técnico  sobre  a minha produção. Cada poema vaza de mim de uma maneira singular, pois são momentos diferentes de minha minha. Quando os leio, o que vejo são retratos de alegrias, angústias, questionamentos, conflitos, paixões, o meu mundo interior explicitado. Há um bloqueio em mim quanto à classificação, e deixo isso com os outros. Mas uma coisa eu afirmo com segurança: na minha poesia eu desprezo completamente as regras, não faço sonetos, haikais, quadras, ou qualquer outra fórmula; já fiz no passado, mas abandonei tal prática quando percebi que isso me amarrava. O próprio ofício de escrever já é uma prisão, sujeitar-me às fórmulas seria uma tortura a mais, eu não suportaria.

Recentemente você publicou o livro “Varal sem lei”. Fale um pouco sobre ele.

- “Varal sem lei” é uma coletânea de poemas escritos num período de dez anos, fase na qual eu encontrei meu caminho poético. O título teve origem a partir de uma crítica que recebi quando submeti a obra a uma análise para publicação: um dos membros da  banca examinadora disse que o livro não merecia ser publicado pois não se tratava de um conjunto particular de poemas, e sim de uma coletânea esparsa, com temas e formas muito distintas. Ele tinha razão: os dez últimos anos da minha vida me transformaram como pessoa e como artista, e eu não poderia ter escrito uma obra tão uniforme num período e que tudo foi improvável e inconstante (e o período em que conquistei grande parte do meu público graças a toda essa versatilidade). Talvez agora eu consiga escrever uma obra que se enquadre nos “padrões” do tal crítico, mas não sei se vale a pena. Acho que não. 

Como você avalia o mercado editorial nos dias de hoje?

- No Brasil, falar em mercado editorial é sempre complicado. Primeiro, porque grande parte da população não é dada à leitura, não somos educados para isso. Da parcela que lê, um percentual significativo prefere o que chamamos de literatura comercial, aquela que vende mais por ser mais fácil (de se produzir e de se entender) ou por ser objeto de alguma “febre”. Não bastasse isso, as grandes editoras, estruturadas com seus sistemas de produção e distribuição, não publicam autores que já não tenham lá sua fama. Dificilmente, um autor iniciante consegue ser contratado por essas empresas. Por outro lado, a internet tem sido um instrumento cada vez mais democrático no sentido de divulgação. Hoje, qualquer coisa que você produza, por pior que seja, pode chegar ao conhecimento de um grande número de pessoas graças aos recursos midiáticos oferecidos pela rede mundial. Com isso, autores iniciantes podem publicar por conta própria e vender seus livros sem o auxílio das editoras. Há também na rede, editoras que publicam sobre demanda, ou seja, só imprimem livros por encomenda, sem a exigência de uma tiragem mínima, o que facilita (e muito) a publicação de uma obra. O único problema é o custo disso, que pode inviabilizar a comercialização.

Você acha que as pessoas em geral ainda se interessam por poesia?

- Eu acredito muito que as pessoas ainda apreciam poesia, e talvez nunca deixem de apreciar. A poesia faz parte da alma. Entretanto, os tempos são outros. Os saraus de poesia já não fazem mais tanto sucesso como antigamente, mas no contexto de um filme, por exemplo, um poema pode levar a plateia à loucura. Realizando recitais, aprendi que, para seduzir um público para a poesia, primeiro é preciso vesti-la com um traje atraente, depois despi-la completamente. Se você combina poesia com teatro, música, recursos audiovisuais, recursos gráficos, fotografia, se você dinamiza a poesia, tenho certeza que seu público não permanecerá inerte. Atualmente, poetas precisam também ter o respaldo técnico de outras áreas (artísticas e técnicas). O resultado disso será mais pessoas procurando por livros.

Você tem algum poeta de que seja fã ou admirador?

- Paulo Leminki, pela genialidade, e Helena Kolody, pela sensibilidade ímpar. Ambos são referências e são paranaenses, morreu o assunto.

Você tem algum livro de poesia a ser lançado em breve?

- “Inquietude reticente”, mas nem sei quando ficará pronto. Também vou fazer uma reedição do “Varal sem lei” para tentar deixá-lo com um preço mais baixo, meus leitores merecem.

Para conhecer mais sobre o trabalho de A. Zhoras, acesse o site www.azhoras.weebly.com

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